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Histeria

Fulana é uma histérica. Beltrano gritou histericamente.

Todos nós já escutamos ou falamos coisas semelhantes pois aprendemos que histérico é sinônimo de exagerado. Mas o uso desta palavra na psicologia e psiquiatria tem um significado mais amplo. Qual a carga que essa palavra carrega?

A histeria (do grego ὑστέρα, “útero”) faz referência a uma condição psicopatológica essencialmente feminina em sua origem. O termo médico grego hysterikos, se referia ao útero, hystera em grego. O termo histeria foi utilizado por Hipócrates –Pai da Medicina-(460-377 a.C) que teorizava a causa da histeria como um movimento irregular do útero. Ele supunha que a histeria se desenvolvia pela privação de relações sexuais, ressecando o útero, que perderia peso e se deslocaria pelo corpo em busca da umidade, o que causava alterações de comportamento nas mulheres.

Durante a Idade Média, a Igreja Católica tratou de categorizar esse tipo de fenômeno como bruxaria e muitas mulheres foram para as fogueiras da Santa Inquisição por esse motivo. Somente em meados do século XVIII as concepções espirituais da histeria cederam às ideias científicas. A histeria deixa de ser objeto de investigação da Igreja para ser uma “doença dos nervos”, cabendo à medicina estudá-la. Com Jean-Martin Charcot, a histeria é categorizada como uma neurose e a hipnose foi usada como tratamento. Mas foi com Sigmund Freud, médico austríaco, entre 1888 a 1893, que a ideia moderna do termo começou a ser construída. Usufruindo dos achados de Charcot sobre os aspectos traumáticos da histeria, Freud elaborou sua polêmica Teoria da Sedução. Atualmente, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) define o quadro como um transtorno de personalidade no qual há padrão difuso de busca de atenção que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos.

Mas isso não acabou com a bagunça e por incrível que pareça, mesmo depois de tantos anos essa palavrinha ainda gera contendas. Vamos esclarecer alguns pontos:

A) Primeiramente é necessário pontuar -principalmente para os médicos- que histeria é diferente de conversão (posso explicar o que é isso em outra postagem). Síndrome conversiva é parte dos transtornos somatoformes, enquanto histeria é personalidade. Agora nada impede que as duas aconteçam juntas, mas aí é outra história.

B) Dito isso cabe aqui uma diferenciação muito importante entre os termos “histérico” e “histriônico” principalmente se usarmos uma linguagem mais científica. Os histéricos estão embasados numa organização neurótica e por isso podem apresentar um comportamento mais ajustado. Os histriônicos estão organizados em uma base narcisista ou em uma base borderline, logo apresentam mais dificuldades de ajustamento. Grosso modo: os histriônicos são mais problemáticos que os histéricos. Assim, se vamos caracterizar o “mais patológico”, o termo mais apropriado (modernamente) é histriônico.

C) Esse lembrete é importante: não é exclusivo de mulheres. Homens podem ser histriônicos também. Heterossexuais inclusive.

Mas afinal de contas o que é o comportamento histriônico? Trata-se de um conjunto de comportamentos explícitos como labilidade emocional, afeto superficial, impulsividade, busca por atenção, funcionamento sexual desajustado, sensação de dependência e desamparo e autodramatização.

Explicando melhor: o histriônico exagera suas expressões ao máximo na tentativa de se proteger. Quando você pergunta como foi seu dia, as respostas são de extremos dramáticos como: “maravilhoso”, “fantástico” ou “terrível”, “o pior dia da minha vida”. Este estilo impressionista serve para afastar o histriônico de entrar em contato com seus afetos genuínos. No nosso exemplo, talvez o dia dele tenha sido apenas um dia comum no qual ele sentiu um pouco de tédio. Para não ver isso ele gira o foco da atenção para fora, para os outros pois ele objetiva ardentemente ser o centro das atenções. Para atingir essa meta lançam mão de variados recursos teatralizados como: falam exageradamente alto, gesticulam demais, se vestem de forma chamativa e apresentam sensualidade exuberante. Tal comportamento sexual é vazio pois não existe intenção de envolvimento de fato, o histriônico apenas precisa sentir que é capaz de atrair a atenção, mas não está disposto a retribuir.

 

No caso do homem é o famoso “Don Juan” que não consegue parar de seduzir, mas ele não vai ficar com nenhuma moça de fato. Toda essa sede por atenção mostra uma grande fragilidade interna, então a pessoa busca fonte de gratificação e reconhecimento externas. Mas repetindo os mesmos comportamentos essa sede será infinita!

 

De uma forma geral os histriônicos se tornam intensos, mas são superficiais. Toda aquela expressão sentimental fica muito parecida com um teatro. Isso tudo para esconder seus verdadeiros sentimentos. Quanto mais exagerado este comportamento, mais incômodo o histriônico gera nas pessoas pois, com um pouco de tempo elas entendem que se trata de um exagero e passam a ignorar. Isso é uma provocação para o histriônico que se sente desafiado a repetir tudo de modo ainda mais intenso, gerando um ciclo vicioso de comportamento. Ele nunca achará a afirmação especial da qual ele pensa que precisa.

 

Segundo alguns teóricos essa conduta teatral tem relação com uma experiência da infância que envolveu não ser reconhecido pelos pais. Significa que os pais, por motivos diversos, não se atentaram para as necessidades de desenvolvimento de seu filho. A criança passa então a se comportar de forma estereotipada na tentativa de obter atenção dos pais uma vez que, sozinha ela não consegue lidar com o medo do abandono. Então se pressupõe que o adulto faça a mesma coisa, ele precisa chamar a atenção simplesmente porque é inseguro e teme a sensação de abandono.

Não vou comentar a teoria de Freud sobre a sedução/incesto na infância para não provocar o vespeiro!

A libertação do histriônico/histérico passa pela tomada de consciência de que estes comportamentos são mecanismos infantis de defesa psicológicos para lidar com o medo do abandono/separação/exclusão. É necessário enfrentar os medos e descobrir mecanismos de defesa do ego mais maduras.

Se este assunto te incomodou, sugiro que leia mais sobre isso e considere conversar com um profissional da saúde mental.

(Embasado em Giovani Belintan e Glen O. Gabbard)

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